Sempre escondidos sob as escuras e grossas lentes de um ray-ban fora de moda, os olhos puxados de Wong Kar Wai enxergam em seu "Um beijo Roubado" (2008) -“My blueberry nights”, um ensaio sobre “distâncias”. Ele destaca, em especial, as que circundam Elizabeth, personagem confiada à cantora Norah Jones, que, cansada de desilusões amorosas, cai na estrada. Mas é difícil não sentir um “Já passei por isso!”, ouvindo as histórias de amores finados na trama.
— Às vezes, a distância física entre duas pessoas pode ser ínfima, mas o abismo emocional entre elas só pode ser medido em quilômetros — disse o chinês Wong Kar Wai ao GLOBO, no Festival de Cannes 2007, onde o longa-metragem disputou a Palma de Ouro. — “Um beijo roubado” é uma forma de explorar distâncias amorosas sob vários ângulos, para compreender os caminhos possíveis para superá-las.
No roteiro de “Um beijo roubado”, assinado por Wong Kar Wai e pelo prestigiado autor de romances policiais Lawrence Block (de “O ladrão que estudava Espinosa”), Elizabeth (Norah Jones) cruza o caminho de tipos interpretados por Jude Law, Rachel Weisz, David Strathairn e uma Natalie Portman malandrona. Cada um deles é diplomado na escola do abandono. E todos têm a tarefa de dar à protagonista lições sobre como atravessar a rota da solidão sem tropeçar nos entulhos do abandono.
No filme,Jude Law interpreta Jeremy, o dono de um restaurante onde Elizabeth come deliciosas tortas, incluindo uma de mirtilo. Em um pote, ele coleciona souvenirs de corações partidos: chaves deixadas no balcão por casais que se separaram. Ele mesmo foi chutado de sua última love story. Seu jeitão de abandonado é um analgésico para os males românticos da confusa mocinha de Wong Kar Wai.
— A atuação de Norah é forte o suficiente para que ela seja encarada como atriz e não apenas como uma cantora — afirmou o diretor, que considera o longa a sua segunda estréia. — Eu disse muitas vezes a Norah: “Este também é meu primeiro filme. Não se esqueça de que é a primeira vez que eu filmo em língua inglesa”. Filmes americanos assinados por diretores chineses sempre incorrem em estereótipos. Eu recorria todo o tempo à experiência pessoal dos atores para fugir disso.
Destaque para a trilha sonora... Cat Power e Norah Jones... delícia demais.
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