Talvez devêssemos lançar um manifesto pela delicadeza...
Drummond dizia: “Sejamos pornográficos, docemente pornográficos”.
Parece que aceitaram exageradamente seu convite, e a coisa acabou em “grosseiramente pornográficos”.Por isso, é necessário reverter poeticamente a situação e com Vinícius de Morais ou Rubem Braga dizer em tom de elegia:
"Meus amigos, meus irmãos, sejamos delicados, urgentemente delicados.
Com a delicadeza de São Francisco, se pudermos.
Com a delicadeza rija de Gandhi, se quisermos"
Já a delicadeza guerrilheira de Guevara era, convenhamos, discutível. Mas mesmo ele, que andou fuzilando pessoas por aí, também andou dizendo: “Endurecer, sem jamais perder a ternura”. Essa é a contradição do ser humano.
Vejam o nosso sedutor Vinícius, que em janeiro de 1980 nos deixou, delicadamente. Era um profissional da delicadeza. Naquela sua pungente “Elegia ao primeiro amigo” nos dizia:
"Mato com delicadeza. Faço chorar delicadamente.
E me deleito. Inventei o carinho dos pés; minha alma
Áspera de menino de ilha pousa com delicadeza sobre um corpo de adúltera.
Na verdade, sou um homem de muitas mulheres, e com todas delicado e atento.
Se me entediam, abandono-as delicadamente, despreendendo-me delas com uma doçura de água.
Se as quero, sou delicadíssimo; tudo em mim
Deprende esse fluido que as envolve de maneira irremissível
Sou um meigo energúmeno. Até hoje só bati numa mulher
Mas com singular delicadeza.
Não sou bom
Nem mau: sou delicado.
Preciso ser delicado
Porque dentro de mim mora um ser feroz e fraticida
Como um lobo.
Os que não puderem ser puramente delicados, que o sejam ferozmente delicados."
Amo a delicadeza, ela existe. É só procurar...
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