quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Dez dias sem televisão - Por Denise Fraga


Me contaram a respeito da experiência feita por uma escola americana que propôs aos alunos e aos seus pais passarem dez dias sem tela. Nada de TV, computador, celular ou videogame, nada que contivesse o tal quadradinho mágico que nos deixa de boca aberta mergulhados no lado de lá. Interessante, né? Ficar sem o lado de lá? Se em nossos dias rápidos, uma tarde com o celular quebrado já se torna uma experiência transgressora, dez dias sem tela podem realmente causar consideráveis mudanças em uma comunidade.

O maior retorno dado à escola pelos alunos foi que houve mais conversa. Bons americanos, os idealizadores do projeto tinham até se dado ao trabalho de fazer uma lista de sugestões de atividades para a família nesses dias impossíveis, tais como aprender a tocar um instrumento ou organizar uma faxina comunitária. Mas o que a comunidade mais estava sedenta de fazer, ficando só do lado de cá, era mesmo conhecer seu pai, seu irmão, sua mãe e talvez até a si mesmo num simples bate-papo na mesa do jantar. 

Não é fácil, porém, ficar sem nossas telas e acho que já estamos até caindo numa conversinha velha, dizendo todo o tempo como isso é um absurdo e coisa e tal com nossos rostos se azulando cada vez mais. Vamos combinar: é um mundo sensacional, faz parte da nossa vida, ponto. Só sinto que precisamos virar a página e tomar as rédeas dessa peregrinação pelo mundo mágico e caleidoscópico da virtualidade, escolhendo delicadamente ao que vamos dedicar nosso precioso tempo.

Nosso Pedro não liga pro computador, saracoteia vez ou outra pelo videogame, mas simplesmente não consegue mais ter um intervalinho entre uma coisa e outra sem ligar a televisão. Como toda mãe, comecei a me incomodar. “De novo na televisão, Pê?!” Mas, como já comentei nesta coluna, sou uma mãe com muita memória de filha e sempre que faço o pequeno desligar a TV, penso no quanto adorava as tardes, mesmo que ensolaradas, em que eu e meu irmão fechávamos as cortinas e nos trancávamos no quarto escuro na frente da televisão.No quanto as imagens que tenho nos arquivos de meus miolos se devem aos Flintstones, aos Waltons, ao Zorro, ao Batman, Jeannie é um Gênio, Perdidos no Espaço, Tom e Jerry, Mary Tyler Moore, Vila Sésamo e, principalmente, a todos os filmes que vi na Sessão da Tarde.

Observo o que Pedro tem visto e, realmente, a maioria das vezes, tenho é vontade de sentar junto. Pedro está escolhendo muito bem o que ver no meio daquela confusa infinidade de canais. É excelente desenhista e, pelos desenhos que faz, vejo que a TV lhe supriu de boas imagens e ajudou sua compreensão humana. 

Na verdade, acho que tem muita coisa boa na TV e na internet, desde que lustremos com afinco, dia a dia, nosso critério de escolha. Até pra escolher desligar o aparelho para simplesmente conversar. E ainda, munidos de tudo que vimos em nossas constantes viagens para o lado de lá. 

DENISE FRAGA é atriz, casada com o diretor Luiz Villaça e mãe de Nino, 13 anos, e Pedro, 12 e-mail: dfraga.colunista@edglobo.com.br

Nenhum comentário: