Me contaram a respeito da experiência feita por uma escola americana
que propôs aos alunos e aos seus pais passarem dez dias sem tela. Nada
de TV, computador, celular ou videogame, nada que contivesse o tal
quadradinho mágico que nos deixa de boca aberta mergulhados no lado de
lá. Interessante, né? Ficar sem o lado de lá? Se em nossos dias rápidos,
uma tarde com o celular quebrado já se torna uma experiência
transgressora, dez dias sem tela podem realmente causar consideráveis
mudanças em uma comunidade.
O maior retorno dado à escola
pelos alunos foi que houve mais conversa. Bons americanos, os
idealizadores do projeto tinham até se dado ao trabalho de fazer uma
lista de sugestões de atividades para a família nesses dias impossíveis,
tais como aprender a tocar um instrumento ou organizar uma faxina
comunitária. Mas o que a comunidade mais estava sedenta de fazer,
ficando só do lado de cá, era mesmo conhecer seu pai, seu irmão, sua mãe
e talvez até a si mesmo num simples bate-papo na mesa do jantar.
Não é
fácil, porém, ficar sem nossas telas e acho que já estamos até caindo
numa conversinha velha, dizendo todo o tempo como isso é um absurdo e
coisa e tal com nossos rostos se azulando cada vez mais. Vamos combinar:
é um mundo sensacional, faz parte da nossa vida, ponto. Só sinto que
precisamos virar a página e tomar as rédeas dessa peregrinação pelo
mundo mágico e caleidoscópico da virtualidade, escolhendo delicadamente
ao que vamos dedicar nosso precioso tempo.
Nosso Pedro
não liga pro computador, saracoteia vez ou outra pelo videogame, mas
simplesmente não consegue mais ter um intervalinho entre uma coisa e
outra sem ligar a televisão. Como toda mãe, comecei a me incomodar. “De
novo na televisão, Pê?!” Mas, como já comentei nesta coluna, sou uma mãe
com muita memória de filha e sempre que faço o pequeno desligar a TV,
penso no quanto adorava as tardes, mesmo que ensolaradas, em que eu e
meu irmão fechávamos as cortinas e nos trancávamos no quarto escuro na
frente da televisão.No quanto as imagens que tenho nos arquivos de meus
miolos se devem aos Flintstones, aos Waltons, ao Zorro, ao Batman, Jeannie é um Gênio, Perdidos no Espaço, Tom e Jerry, Mary Tyler Moore, Vila Sésamo e, principalmente, a todos os filmes que vi na Sessão da Tarde.
Observo
o que Pedro tem visto e, realmente, a maioria das vezes, tenho é
vontade de sentar junto. Pedro está escolhendo muito bem o que ver no
meio daquela confusa infinidade de canais. É excelente desenhista e,
pelos desenhos que faz, vejo que a TV lhe supriu de boas imagens e
ajudou sua compreensão humana.
Na verdade, acho que tem muita coisa boa
na TV e na internet, desde que lustremos com afinco, dia a dia, nosso
critério de escolha. Até pra escolher desligar o aparelho para
simplesmente conversar. E ainda, munidos de tudo que vimos em nossas
constantes viagens para o lado de lá.
DENISE FRAGA é atriz, casada com o diretor Luiz Villaça e mãe de Nino, 13 anos, e Pedro, 12 e-mail: dfraga.colunista@edglobo.com.br
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